Terrorismo em Cabo Delgado: Ataques Destroem Casas e Forçam Deslocamentos em Massa

Quase 93 mil pessoas fugiram desde finais de setembro devido ao recrudescimento da violência extremista no norte

UNICEF MOZAMBIQUE

Pemba/Maputo - A província de Cabo Delgado continua mergulhada numa crise humanitária sem precedentes, com ataques terroristas a provocarem destruição massiva de infraestruturas e deslocamentos forçados de dezenas de milhares de pessoas.

Números Alarmantes

Dados recentes da Organização Internacional para as Migrações (OIM) revelam uma situação crítica:

  • Quase 93 mil pessoas fugiram desde finais de setembro
  • 39.643 novos deslocados entre 22 de setembro e 6 de outubro
  • 12.335 famílias afetadas em apenas duas semanas
  • 6.257 mortos em oito anos de conflito (segundo ACLED)

Distritos Mais Afetados

Mocímboa da Praia - Epicentro da Crise

O distrito registou o maior número de deslocados, com 26.405 pessoas a fugirem dos bairros 30 de Junho e Filipe Nyusi devido à "insegurança" causada por pelo menos dois ataques mortais em setembro.

Outros Distritos em Alerta

  • Balama: Ataques frequentes a aldeias
  • Montepuez: Destruição de infraestruturas
  • Chiúre: População em fuga constante
  • Palma: Instabilidade permanente

Destruição de Infraestruturas

Entre 30 de setembro e 3 de outubro, ataques nos distritos de Lúrio e Chipene resultaram na destruição de:

  • 51 casas incendiadas
  • 1 igreja destruída
  • 1 escola primária vandalizada
  • Estabelecimentos comerciais saqueados

Expansão Para Nampula

A violência já ultrapassou as fronteiras de Cabo Delgado. Em Memba, província de Nampula, 2.178 pessoas fugiram das aldeias de Chipene e Necoro após ataques terroristas que incendiaram pelo menos 45 casas em duas aldeias, no dia 1 de outubro.

Posição do Presidente Chapo

O Presidente da República, Daniel Chapo, garantiu em Genebra que actualmente nenhuma vila está ocupada pelos terroristas em Cabo Delgado, embora reconheça que os insurgentes continuam a realizar ataques "esporádicos" em algumas aldeias.

"O que temos estado a fazer neste momento é continuar a combater no terreno, através das nossas Forças de Defesa e Segurança (FDS), com apoio das forças do Ruanda e da Tanzânia, ao longo da fronteira", afirmou Chapo.

Impacto Humanitário

Agosto de 2025: Mês Negro

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU):

  • 44 pessoas mortas
  • 208 mil pessoas afetadas pelos ataques

Crise Alimentar

A situação humanitária agrava-se com:

  • Impossibilidade de acesso às machambas (campos agrícolas)
  • Escassez de produtos básicos
  • Milhares em campos de deslocados sem condições

Voz da Igreja Católica

O Bispo de Pemba, Dom António Juliasse Sandramo, expressou profunda preocupação:

"Em Cabo Delgado continua a travar-se uma guerra terrorista. São semeadas destruições e mortes violentas, a continuação deste desumano sofrimento é inaceitável", alertou o prelado.

A Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) denunciou recentemente que missionários relataram "grande destruição" com "muita gente em fuga" após novos ataques.

Estratégia dos Terroristas

Especialistas indicam que os grupos extremistas estão a adoptar novas táticas:

  • Uso frequente de minas terrestres
  • Fechamento de território para consolidar posições
  • Recrutamento forçado, incluindo crianças
  • Ataques coordenados a bases militares

Resposta Militar

As forças moçambicanas contam com apoio internacional:

  • Ruanda: Contingente permanente no terreno
  • Tanzânia: Patrulhas fronteiriças
  • União Europeia: 20 milhões de euros aprovados em novembro para forças ruandesas
  • SADC: Apoio logístico regional

Oito Anos de Conflito

O primeiro ataque terrorista em Cabo Delgado ocorreu a 5 de outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia. Desde então:

  • Milhares de vidas perdidas
  • Centenas de aldeias destruídas
  • Economia da região devastada
  • Projectos de gás natural em risco

Desafios Para 2025

A situação em Cabo Delgado foi identificada como prioridade no Diálogo Nacional Inclusivo, com a população a clamar por:

  • Paz e segurança duradouras
  • Regresso às suas terras
  • Reconstrução de infraestruturas
  • Assistência humanitária urgente

Apelo Internacional

Organizações internacionais e a Igreja Católica apelam à comunidade mundial para não esquecer as populações de Cabo Delgado, que desde 2017 são vítimas de grupos armados ligados ao Estado Islâmico (Daesh).


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