Durante quase um mês, de 13 de setembro a 6 de outubro, Moçambique marcou presença na Expo Osaka 2025, no Japão. Shows culturais, performances de timbila, marrabenta, e até uso de Inteligência Artificial em espectáculos.
Parece impressionante, certo?
Mas aqui está a pergunta que ninguém está a fazer: quanto é que isto custou aos contribuintes moçambicanos e o que é que ganhámos em troca?
O Que Foi Feito?
O Comissariado Geral de Moçambique para a Expo Osaka (COGEMO) organizou uma série de eventos culturais "juntando diferentes expressões artísticas do país".
Os destaques:
1. "Raízes do Futuro: Moçambique entre Memória e Máquina" (6 de outubro)
- Espectáculo de encerramento que misturou tradições culturais com IA e projeções digitais
- A promessa: "conectar riqueza das tradições com ferramentas digitais"
2. Concertos de Elcídio e Rasgado da banda Marrove (24-25 de setembro)
- Ritmos tradicionais: tufo, xigubo, nyau, marrabenta, nganda, rumba
- Interação com o público japonês
3. Workshop "Práticas Chope" (3 de outubro)
- Matchume Zango ensinou sobre timbila
- Lembra-se que timbila é Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO
4. Proposta de intercâmbio cultural Moçambique-Japão
- Foco em tecidos como forma de expressão e resistência
Soa Bem... Mas e Depois?
Vou ser sincero: celebrar a nossa cultura é importante. Mostrar ao mundo quem somos é necessário.
MAS...
Enquanto estávamos a fazer shows de timbila no Japão:
- Milhares de moçambicanos não têm electricidade em casa
- Escolas no interior funcionam debaixo de árvores
- Hospitais não têm sequer paracetamol
- Jovens licenciados vendem crédito na rua porque não há emprego
A Questão do Investimento
Participar numa Expo mundial não é barato. Estamos a falar de:
- Pavilhão (construção, aluguer, decoração)
- Deslocações (passagens aéreas, alojamento para delegação)
- Equipamento (som, luz, projeções, IA)
- Artistas e técnicos
- Logística e produção
- Comunicação e marketing
Estimativa conservadora: Vários milhões de dólares.
E o retorno? Difícil de medir.
O Que Moçambique Ganhou?
Ganhos potenciais:
- ✅ Visibilidade internacional
- ✅ Promoção da cultura moçambicana
- ✅ Networking com investidores japoneses (talvez)
- ✅ Turismo (a longo prazo, muito longo)
Ganhos concretos até agora:
- 🤷 ... estamos à espera
O Modelo Japonês vs A Realidade Moçambicana
O Japão é uma potência tecnológica e económica. Participar na Expo Osaka faz sentido para países que querem:
- Atrair investimento direto estrangeiro
- Estabelecer parcerias tecnológicas
- Promover exportações
A questão: Moçambique tinha uma estratégia clara para isto? Ou foi apenas "vamos lá porque os outros também vão"?
Onde Estão os Resultados?
Já passou um mês desde o fim da participação moçambicana. Ainda não vi:
- Anúncios de investimentos japoneses em Moçambique
- Parcerias concretas estabelecidas
- Contratos assinados
- Turistas japoneses a desembarcar em Maputo
Talvez esteja a ser impaciente. Talvez os frutos venham a longo prazo.
Ou talvez tenha sido apenas mais uma despesa do Estado sem retorno mensurável.
A Alternativa
Imaginem se os milhões gastos na Expo Osaka tivessem sido investidos em:
- Bolsas de estudo para jovens moçambicanos estudarem no Japão
- Laboratório de IA numa universidade moçambicana
- Programa de intercâmbio técnico Moçambique-Japão
- Infraestrutura para promover turismo doméstico primeiro
Não seria mais eficaz?
Não Sou Contra Cultura
Deixem-me ser claro: valorizo a nossa cultura. A timbila, a marrabenta, o nyau - tudo isso é precioso e deve ser preservado e promovido.
Mas há formas mais inteligentes e eficazes de fazer isso.
Gastamos milhões para levar timbila ao Japão. Quantos jovens moçambicanos sabem tocar timbila? Quantas escolas ensinam música tradicional?
Promovemos a cultura lá fora, mas esquecemo-nos dela cá dentro.
A Transparência Que Falta
Até agora, não vi:
- Relatório de custos da participação
- Lista de contactos/parcerias estabelecidas
- Plano de follow-up pós-Expo
- Métricas de sucesso
Pergunto ao COGEMO: Podem publicar estes dados? O povo moçambicano tem direito de saber.
Opinião Final
Participar em eventos internacionais pode trazer benefícios. Mas não pode ser apenas para "marcar presença" e tirar fotos bonitas.
Tem que haver:
- Estratégia clara de objetivos
- Investimento proporcional aos recursos do país
- Plano de follow-up rigoroso
- Transparência total de custos
- Prestação de contas sobre resultados
Caso contrário, é só turismo governamental pago pelo contribuinte.
E você? Acha que a participação de Moçambique na Expo Osaka foi um bom investimento? Ou era dinheiro que fazia mais falta cá dentro?
Diga nos comentários. Sem medo.
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